terça-feira, 13 de maio de 2008

“Ainda engatinhamos no Comércio Exterior"

Entrevista concedida a Revista Gestão Empresarial, FACISC, Ano 3, nº07. 2008.


GE - Como você avalia o ano de 2007 para o mercado internacional?
Janine Alves - O mercado enfrentou duas grandes crises em 2007. Em fevereiro, o rumor de que a China taxaria os lucros desencadeou a queda nas bolsas de valores mundo afora. Embora com grandes perdas para os investidores, a crise foi contornada em poucas semanas, mas a crise no mercado imobiliário dos EUA é mais grave, caracteriza-se como herança e assusta a economia em 2008. Apesar disso, a economia mundial segue a trajetória normal de crescimento, chegando próximo dos 5%. A China continua sendo destaque. Pelo quinto ano consecutivo, o PIB cresceu acima dos 10%, podendo consolidar o País como a terceira maior economia do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos e Japão.

GE - O que podemos esperar para 2008?
Janine Alves - O ano de 2008 não vai ser fácil e começa com a preocupação de saber até que ponto a crise americana vai
atingir a economia global. Quanto maior a relação econômica de países e empresas com aquele mercado, maior será o reflexo, sem esquecer que o impacto em uma economia prejudica o relacionamento desta com outros países, por isso o efeito dominó é inevitável. Os países emergentes poderão sentir mais a freada econômica. O Brasil conta com alguns pontos positivos para enfrentar esta crise. A diversificação da pauta de exportação e dos parceiros comerciais conta a nosso favor. Nos últimos anos, acumulamos superávits em conta corrente, o regime cambial flutuante deixou a economia mais ágil, o incremento das reservas cambiais e a maior austeridade fiscal fortaleceram o País diante das ameaças internacionais. O que indica que o comércio exterior brasileiro continuará em expanção em 2008, mas com desaceleração no ritmo. O problema para as exportações brasileiras neste ano e nos que seguem está relacionado ao setor público. Os investimentos em infraestrutura não acompanham a competência do setor empresarial e os gargalos são velhos conhecidos: rodovias, portos, aeroportos, risco de uma crise energética, além do crescimento dos problemas burocráticos. A emissão de licença de importação não sai mais em 15 dias e sim em 45, o registro de exportações também está mais demorado, assim como o prazo para outros procedimentos relacionados com o comércio exterior. São pedras no sapato já apertado que os empresários têm que calçar antes de exportar.

GE - Como a crise americana pode afetar o câmbio, as exportações e as importações?
Janine Alves - A crise americana está atingindo economia mundial desde o ano passado. As oscilações nas bolsas de valores demonstram o grau de desconfiança dos investidores quanto ao impacto desta crise e a movimentação de capital faz oscilar o câmbio. Já os reflexos sobre as exportações brasileiras são inevitáveis e os primeiros números de 2008 são os piores para o período desde 2002. Há que se frisar a queda relativa das
exportações brasileiras para os Estados Unidos ocorrida nos últimos anos. Entre 2003 e 2007, caiu de 25,4% para 15,6%, em 2007 as exportações brasileiras cresceram 16% (em relação a 2006) e as vendas externas para os EUA aumentaram apenas 2,2%, este fato minimiza os impactos, mas não vai impedir que a crise bata à nossa porta. Os empresários que vendem para os Estados Unidos tendem a procurar novos mercados, principalmente na Europa e na Ásia, e também destinar os produtos para o mercado nacional, que está aquecido. Já as importações só vão ser afetadas se a crise se estabelecer no País e o grau de confiança na economia diminuir, impedindo novos investimentos.

GE - A instabilidade do câmbio influencia diretamente as exportações. Há diferentes visões sobre este tema. Como você avalia?
Janine Alves - A instabilidade, seja qual for, é sempre um problema para a economia, gera incerteza, frustra expectativas e ações concretas. Para exportar, entre a produção, a venda e a entrega do produto, existem prazos a serem cumpridos, custos a serem cobertos e moedas diferentes em jogo, o risco faz parte do negócio e a habilidade dos empresários de lidar com as incertezas também. A moeda, quando está valorizada, dificulta a exportação, porque torna os produtos mais caros no exterior. Hoje o dólar oscila próximo de R$ 1,80, mas sofreu uma desvalorização de quase 40% nos últimos três anos. Essa desvalorização atingiu pelo menos 85% das empresas exportadoras de Santa Catarina, forçando-as a reduzirem o custo de produção e a buscarem alternativas emergenciais. Movimentos dramáticos pela velocidade, mas essenciais para garantir a permanência no mercado.

GE - Como o mercado de ações influencia esta área?
Janine Alves - O mercado de ações é o termômetro para o mercado produtivo. Ele baliza as expectativas em relação às variáveis econômicas (e também políticas) e transforma em compra e venda de ações de empresas, em entrada ou saída de divisas de um país, e isto se reflete na economia real. O movimento inicialmente é financeiro, mas sem dúvida afeta a decisão de investir num ou noutro país, possibilita o investimento em um seguimento produtivo ou em outro.

GE - Quais os setores catarinenses que têm potencial para exportação?
Janine Alves - Em 2007, as exportações catarinenses cresceram 22,9% (em relação a 2006), percentual acima da média nacional. Com destaque para venda de carnes e derivados de frango, seguidos por motores elétricos, motocompressores, soja e fumo. Setores como o moveleiro e o cerâmico apresentaram quedas nas exportações pelos reflexos do câmbio, mas são de suma importância para Santa Catarina. Grandes exemplos do potencial exportador. As exportações não são exclusividade de grandes empresas. No caso específico de Santa Catarina, 29% das exportadoras são pequenas e 2% microempresas. Se o produto é bom, existe lugar ao sol para quem se profissionaliza, aproveita os novos meios de comunicação e a flexibilidade dos meios de transporte para entregar volumes menores. As empresas de base tecnológica e seus produtos representam um capítulo à parte, pois muitos produtos têm potencial e já são exportados, mas também porque podem fornecer soluções tecnológicas para as empresas nacionais. A atualização tecnológica é fundamental para transformar o potencial exportador em realidade e às vezes a tecnologia não está tão distante quanto se imagina.

GE - Os setores que já exportam terão mudanças neste ano? O que eles podem fazer para melhorar seus negócios?
Janine Alves -
Onde há concorrência, as mudanças são inevitáveis. A valorização do real ainda é um desafio para muitos setores. A crise nos Estados Unidos também vai provocar mudanças; põe em cheque 15% das exportações brasileiras e mais de 17% das exportações catarinenses, isto se a economia tivesse a lógica da matemática, porque, na prática, o impacto vai ser maior: atinge o mercado de capitais, expectativas e decisão de investir dentro do País em empresas que nem sonham com mercado externo. O mercado internacional não é palco para amadores. Na Era do Conhecimento, os desafios são intensos e as mudanças rápidas. Sem dúvida uma “corrida de obstáculos” contra o tempo. Quem exporta sabe disso e tenta acompanhar o ritmo dos acontecimentos. O resultado das exportações em 2007 é fruto do suor de empresários e trabalhadores que se superam dia-a-dia. Os empresários fazem a lição de casa e quem não faz mais cedo ou mais tarde sairá do mercado. A crítica vai para o setor público e aos sucessivos Governos que não acompanham o crescimento do setor produtivo com investimentos em infraestrutura. Culpa também do setor empresarial que contribui financeiramente com candidatos que depois de eleitos deixam muito a desejar. O custo dessa ineficiência pública é também exportado todos os dias.

GE - Quais os países que o Brasil, e em especial, Santa Catarina, têm melhor relacionamento e potencial de exportação?
Janine Alves - Os Estados Unidos ocupam o primeiro lugar nas exportações brasileiras e catarinenses, mas nos últimos anos, com a diversificação da pauta de produtos e dos destinos, vêm perdendo espaço relativo. Ano passado as exportações cresceram para países do Oriente Médio, Ásia, África e Europa Oriental e também para parceiros comerciais tradicionais como a União Européia, o Mercosul e até mesmo em números absolutos para os Estados Unidos. Os produtos catarinenses têm como principal destino os Estados Unidos (17,30%), Argentina (7,08%), Holanda (5,86%), Alemanha (4,97%) e Japão (4,46%). Observando que os países da União Européia participam com mais de 28% da pauta, aumentando a importância daquele continente durante a crise americana.

GE - A economia mundial cresce, assim como os parceiros comerciais do Brasil. Essas são notícias que favorecem nossas exportações?
Janine Alves - Hoje o Brasil tem mais de 7 mil produtos na pauta de exportações e mais de 210 parceiros comerciais, mesmo assim a participação brasileira no comércio mundial caiu de 2% para 1% em cinco décadas. Nós ainda engatinhamos no comércio exterior. A abertura econômica do País começou na década de 90. De lá para cá as mudanças são constantes e a profissionalização crescente. Um exemplo claro é o aumento dos cursos de Administração de Empresas com Habilitação em Comércio Exterior. Entre 2003 e 2007, o valor exportado mais que dobrou, o valor importado aumentou duas vezes e meia e a corrente de comércio cresceu mais de 130%. Uma expansão rápida e com diversificação dos parceiros comerciais, movimento excelente para a economia. A crítica mais uma vez vai para o Governo, que não se aparelhou para esse crescimento e, pior, perdeu espaço. Exemplo disso foi a redução da Secex de 550 para 220 funcionários, o que está triplicando os prazos e aumentando custos para exportação e importação de produtos, como falei anteriormente.

GE - E quanto à importação? Como o Brasil e Santa Catarina estão nesta área? Como isso influencia a balança comercial?
Janine Alves - Com o dólar favorável, as importações brasileiras cresceram 32% no ano passado e estão diretamente vinculadas ao investimento produtivo. A compra de matéria-prima, bens intermediários e bens de capital responderam por praticamente 70% da pauta. As importações catarinenses cresceram acima da média nacional, 44%. Os insumos para indústria tiveram participação importante, acompanhando a tendência nacional de investimento do setor produtivo. O destaque fica por conta da China, que agora é o nosso principal fornecedor externo, seguido pela Argentina, Chile, Estados Unidos e Alemanha. Outro fator novo são os produtos que simplesmente não apareciam na pauta e que já estão entre os mais importantes, como pneus novos para ônibus, caminhões e automóveis e aparelhos videofônicos de gravação e reprodução. Já a Balança Comercial sofreu uma queda natural diante do câmbio atualizado, que torna atraente as importações de 13% para o Brasil e 5% para Santa Catarina, mas com saldo positivo significativo, US$ 40 bilhões para o Brasil e US$ 2,3 bilhões para Santa Catarina.

4 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns, sua intrevista concedida a Revista Gestão Empresarial está excelente.

Anônimo disse...

Parabéns, sua entrevista concedida a Revista Gestão Empresarial está excelente.

Anônimo disse...

Parabéns, sua entrevista concedida a Revista Gestão Empresarial está excelente.

Janice disse...

Parabéns, sua entrevista concedida a revista está excelente.

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