segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A nova classe média do Brasil

Estou reproduzindo uma matéria que vale a pena ler, pois pequenas diferenças podem ter resultados significativos para a sociedade...um país mais justo precisa de melhor distribuição de renda e uma melhor distribuição de renda da sustentabilidade ao desenvolvimento e ao movimento ciclico de prosperidade. Ainda falta muito para isso, mas sempre é bom ver um começo...JANINE ALVES


Como vivem esses 100 milhões de brasileiros e o que eles representam para o futuro do país

David Friedlander, Ivan Martins e Peter Moon, com Martha Mendonça e Ricardo Mendonça


“Classe média, eu?” A idéia surpreende Josineide Mendes Tavares, uma manicure de 34 anos, moradora da Rocinha, a favela mais conhecida do Rio de Janeiro. Sua freguesia, formada por mulheres da zona sul, que Josineide atende em domicílio, proporciona uma renda de R$ 1.500 a R$ 2 mil por mês. Ela e os dois filhos pequenos vivem numa casinha de 35 metros quadrados. Lá dentro, ela tem uma televisão de tela plana de 29 polegadas, nova, equipada com serviço de TV por assinatura e DVD. Fãs de Cartoon Network e Discovery Kids, as crianças assistem à televisão sentados nas cadeiras de uma pequena mesa de jantar, porque na sala apertada não cabe um sofá. O fogão de quatro bocas é antigo, mas o freezer e a geladeira Josineide acaba de comprar. Na laje, um extenso varal com roupas da moda e uma lavadora de última geração. “Compro tudo em parcelas a perder de vista”, diz ela. Ainda faltam um computador e um videogame. Ah!, sim. Josineide quer mais um celular. Ela já tem dois, mas diz precisar do terceiro para estar sempre à disposição da clientela.

Josineide e os filhos formam uma família típica da nova classe média brasileira, segundo uma pesquisa divulgada na semana passada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio. De acordo com esse estudo, nos últimos seis anos cerca de 20 milhões de brasileiros deslocaram-se da base para o miolo da pirâmide social. Até há pouco tempo classificados como pobres ou muito pobres, eles melhoraram de vida e, como Josineide, começam a usufruir vários confortos típicos de classe média. Sua ascensão social revela uma excelente novidade: pela primeira vez na História, a classe média passa a ser maioria no Brasil. São hoje 52% da população (eram 44% em 2002) – ou 100 milhões de brasileiros, segundo a FGV.

Essa população emergente, com seu desejo de continuar a consumir e seu foco no progresso pessoal, é um sintoma de que o Brasil está melhorando. Em todos os países que alcançaram um alto grau de desenvolvimento econômico e social, a maioria dos habitantes pertence à classe média. Conhecer a nova classe média brasileira é, portanto, fundamental para entender o futuro do Brasil. Quem são essas pessoas? Como melhoraram de vida? Que impacto podem provocar? Quais desafios trazem para o país?

O economista Antônio Delfim Netto, ex-ministro nos governos militares, diz que a ascensão social em curso é do “mesmo gênero” que a ocorrida nos anos 60 e 70. “Criaram-se empregos industriais com bons salários, que permitiram à população comprar bens a que antes ela não tinha acesso”, diz Delfim. A diferença é a ordem de grandeza. A população brasileira aumentou, mudou do ponto de vista educacional e atravessou uma revolução demográfica que reduziu o tamanho da família. “Menos importante que o tamanho da renda é o povo sentir que progrediu”, afirma Delfim. “A soma de salário e crédito abundante permite que elas comprem bens de classe média.” Essa dinâmica, diz ele, cria a possibilidade de expansão ainda maior da economia, movimenta o mercado e põe mais gente no elevador social.

Para decifrar essa nova realidade, é preciso entender que a classe média desenhada pelas novas estatísticas é bem diferente da imagem consolidada pelo senso comum. Por isso, Josineide, a manicure da Rocinha, não se sente parte do novo estrato social. O que significa, para ela, pertencer à classe média? “É ter filhos estudando em boas escolas particulares, um carro e dinheiro para uma pequena viagem de fim de semana uma vez por mês”, afirma. Enquadrar as pessoas em determinada classe social é sempre um processo arbitrário, no Brasil e em qualquer país. Alguns pesquisadores usam como critério apenas a renda. Outros levam em conta fatores como patrimônio, ocupação ou nível de escolaridade. Em sua pesquisa, a FGV definiu como classe média as famílias com renda mensal entre R$ 1.065 e R$ 4.591.

Esse universo de 100 milhões de brasileiros é formado sobretudo pelos ex-pobres que acabam de pôr o pé na classe média. Alguns estudiosos chamam esse segmento de classe média baixa, outros falam em classe C. Para muitos, é difícil classificá-los. O certo é que melhoraram de vida. Anos atrás, não tinham conta em banco, consumiam apenas o essencial e seu principal objetivo na vida era chegar ao fim do mês com as contas pagas. Hoje, estão comprando o primeiro carro zero, construindo um cômodo a mais na casa, se vestem melhor. “Nossa maneira de olhar a classe média é meio americana”, diz o economista Marcelo Neri, coordenador da pesquisa e diretor do Centro de Políticas Sociais da FGV. “A classe média tradicional brasileira sempre comparou seu poder aquisitivo ao dos países desenvolvidos.”

A expansão da classe média e a redução da desigualdade de renda não são um fenômeno brasileiro apenas. Ele vem ocorrendo simultaneamente – e de forma acelerada – em todas as economias emergentes, sobretudo na China e na Índia. A explosão da classe média teve início há cerca de dez anos, ainda não atingiu seu pico e, segundo se prevê, deve durar pelo menos mais dez anos. Um estudo recente do banco de investimento Goldman Sachs – intitulado O Meio que Cresce – estima que, até 2030, 2 bilhões de pessoas terão se juntado à “classe média mundial”, conceito que, para o Goldman Sachs, inclui pessoas (e não famílias) com rendimento mensal entre US$ 500 e US$ 2.500. Os analistas Dominic Wilson e Raluca Dragusanu, que assinam o relatório, estimam que, em 20 anos, essa classe média, mais restrita que a descrita pela FGV, será 30% da população mundial.

Tanto o porcentual quanto a rapidez com que ele está sendo atingido são inéditos. Fazem empalidecer até mesmo a formidável mudança do século XIX, quando a maturidade da Revolução Industrial e a rápida urbanização produziram na Europa a primeira classe média da História – com notáveis conseqüências econômicas, culturais e políticas. Os comerciantes, funcionários públicos, empregados de escritório e profissionais liberais assalariados que constituíam a espinha dorsal desse novo grupo social conseguiram rapidamente converter seu sucesso econômico em poder político e influência cultural. Os ingleses vitorianos, pioneiros da mudança, usaram a imprensa diária que nascia para atacar vigorosamente os privilégios aristocráticos e defender uma sociedade baseada no mérito e no esforço pessoal. Datam dessa época as reformas educacionais que universalizaram o ensino, enfatizando as disciplinas práticas (como Matemática ou Ciência, que interessavam aos novos empreendedores) em detrimento da cultura clássica, associada (injustamente) aos hábitos da aristocracia rural. A sociedade que conhecemos hoje, baseada em princípios como democracia e livre mercado, é, em larga medida, uma extensão dos valores e das formas de organização social e urbana construídas naquele período.

Agora, quase 200 anos depois, a nova classe média global pode ter um impacto semelhante sobre o mundo, impondo seus valores e suas ambições ao universo da política, da economia e da cultura. “A ascensão da classe média dos países emergentes vai produzir um espectro de pressões econômicas, sociais e políticas, numa escala que não era vista desde a formação da classe média nos países desenvolvidos, em meados do século XIX”, diz o documento do Goldman Sachs. Além do óbvio impacto ambiental e econômico de 2 bilhões de pessoas ingressando no mercado de consumo – algo a que já se atribui a atual inflação dos alimentos e da energia –, as novas hordas cidadãs trarão consigo preferências estéticas e sociais que não são necessariamente parecidas com as da classe média tradicional. Trata-se, portanto, de entender com urgência os valores dos novos grupos emergentes.

No Brasil, o aumento da classe média e a redução da desigualdade não surgiram de uma hora para outra. A base dessas mudanças está no processo de estabilização econômica, ganhou impulso com a adoção de uma política de transferência de renda e foi acelerada com o crescimento econômico dos últimos anos, gerador de novos empregos e de renda. De acordo com o Data Popular, consultoria especializada em consumo da população de baixa renda, entre 2002 e 2006 a massa de renda em poder da classe C cresceu R$ 80 bilhões. “Até os anos 90, havia a idéia de que só valia a pena produzir para as classes A e B”, afirma o demógrafo e economista Haroldo Torres, diretor do Data Popular. “Agora, as empresas estudam e desenvolvem produtos específicos para as classes C e D.”

Por causa deles, o Brasil tornou-se em 2006 o terceiro maior fabricante de computadores do mundo, com 6 milhões de aparelhos. Para este ano, a previsão é atingir 13,5 milhões. No setor automobilístico, o país vem batendo recordes de produção todo ano – mais de 70% dos carros são financiados em até 60 meses. No mercado imobiliário, crescem os lançamentos de apartamentos populares, financiados em até 25 anos. Na classe C, a economia funciona a ritmo chinês. “Para a elite, o crescimento do Brasil não é chinês, mas para os pobres é”, afirma Neri, da FGV. “É preciso começar a pensar na riqueza dos pobres – e não na sua pobreza.”

Historicamente, a classe média é o segmento da sociedade mais obcecado pelo progresso pessoal, pela idéia de melhorar de vida. E isso traz alterações no mundo político. O fortalecimento desse segmento cria também demandas por melhoria na educação, qualidade das empresas e das instituições. Nos países desenvolvidos, a classe média abandona os governos que a contrariam, porque rejeita tudo o que possa atrapalhar seu sonho de progresso. Para o sociólogo Sérgio Abranches, na política a consolidação de uma nova classe média pode trazer ao menos dois benefícios: “O primeiro seria diminuir a dependência dos políticos. O pobre não vai mais precisar pedir favores nos gabinetes, como dentadura, cadeira de rodas e vaga em hospital. Isso significaria o fim do clientelismo”. O segundo benefício tem relação com o aumento do nível de exigência aos políticos: “Quando o estágio mais penoso da pobreza é superado, as pessoas vão querer mais informação, mais educação, mais lazer. Começam a ver a cidade de modo diferente. Começam, enfim, a se libertar”.

A grande notícia é que o grupo que compõe a nova classe média tem um perfil historicamente discriminado no mercado de trabalho e na distribuição de renda. São basicamente jovens, negros, nordestinos, gente de baixa escolaridade. Muitos passaram a vida na informalidade.

Ana Aranha
Época num. 0534
http://clipping.planejamento.gov.br/

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